Resenha: A garota dinamarquesa, de David Ebershoff

Nome: A garota dinamarquesa

Autor: David Ebershoff 

Editora: Fábrica231

Páginas: 311

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Sinopse: Um simples favor que a esposa pede ao marido numa tarde fria, enquanto os dois pintam no ateliê. A modelo que vem posando para ela cancelou a sessão; ele se importaria de colocar as meias e os sapatos da moça, por alguns instantes, para que ela possa terminar o resto do retrato? "Claro", diz ele."O que você quiser." Assim começa uma das mais passionais e incomuns histórias de amor do século XX.

Inspirado na história real do pintor dinamarquês Einar Wegener e sua esposa californiana, este delicado retrato de um casamento nos desafia a refletir o que fazer quando alguém que amamos quer mudar. Einar passa a se vestir cada vez mais como Lili – uma espécie de alter ego feminino –, por quem Greta se vê estranhamente atraída, e à medida que Einar desaparece na lembrança, eles percebem que uma escolha terá de ser feita: Lili ou Einar.

Tendo como pano de fundo o glamour e a decadência da Europa da década de 1920, A garota dinamarquesa retrata a quase esquecida história de amor entre um homem que descobre sua verdadeira sexualidade e uma mulher disposta a sacrificar tudo por ele.

Romance de estreia de David Ebershoff, A garota dinamarquesa ganhou o Prêmio Literário Lambda de 2000 na categoria de ficção transgênero, e foi transformado em um grande filme estrelado pelo já vencedor do Oscar, Eddie Redmayne.

Resenha

Como uma mulher CIS, não posso dizer que compreendo profundamente todas as emoções que foram descritas no livro. Não me sinto nem mesmo perto de compreendê-las, apesar da narrativa ter sido bastante cirúrgica em toda a amplitude das sensações, dos sentimentos, das questões sociais e pessoais de Lili Elbe.

É uma narrativa importante, não apenas por retratar a história - não 100% verídica - de uma das primeiras pessoas a submeter-se a uma cirurgia de redesignação sexual, e primeira tentativa de transplante de útero da humanidade (vê o peso aqui?), mas por trazer um assunto tão delicado de uma forma tão bonita, quase poética.

Precisamos, sim, abordar esse assunto sem um peso negativo que foi atrelado à ele durante tantos anos, mas devemos também entender que não é simples. A compreensão de si mesmo, do seu lugar no mundo, do desejo que arde dentro de si. Vejo na narrativa que foi um processo doloroso e imagino que deva ser. Confuso, obscuro e solitário. E devemos lutar para mudar isso. Não o processo, mas não deixá-lo ser solitário ou obscuro. Sermos pontos de equilíbrio e de paz. Acolher. É isso o que eu queria fazer por Lili, e fiquei tão, mas tão grata por ela ter ao lado dela uma mulher tão incrível como Greta, capaz de tanto esforço e dedicação para compreender, aceitar e acolher.

Terminei de ler esse livro com a sensação de que Lili Elbe abriu portas incríveis para a comunidade LGBT. Fiquei triste, é claro, pois o final não é bonito. Não é agradável. Eu gostaria de poder vê-la feliz, com filhos, que era o seu desejo - seu sonho. Mas não é isso o que acontece. David Ebershoff manteve a história como ela realmente aconteceu, neste ponto, e Lili infelizmente faleceu antes de poder se casar como mulher e antes de tornar-se mãe. Mas a história dela dentro da comunidade permanece, e ela teve a oportunidade de se tornar uma figura materna, de inspiração, de coragem e de força, para todos nós.

Considero essa uma leitura muito importante para a humanidade. A obra de David Ebershoff é capaz de nos ensinar a amar apesar das classificações impostas pela sociedade, nos ensinar empatia, nos ensinar o perdão e a compreensão. É, definitivamente, uma obra de arte.

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