Tentações imperceptíveis do século XXI

Foto: Fausto Sandoval

Eu poderia começar este texto com uma crítica política, mas não é essa a intenção. Não, a ideia é trazer uma reflexão a respeito do mundo em que vivemos, para que você possa pensar com os seus próprios botões — e não assumir uma opinião alheia sem refletir se ela faz ou não sentido para a sua realidade.

Fato é: quem tem mais, é melhor. Essa é a opinião da grande maioria da população, mas não se trata de um ponto de vista exclusivo do nosso século. Desde que a humanidade teve contato com a hierarquia social, desejamos ser os melhores — não apenas pela visão alheia sobre nós mesmos, mas também por toda a carga que essa posição carrega: melhor alimentação, melhor atendimento, melhor qualidade de vida.

Mas, se eu for aprofundar nesse assunto, precisarei de mais páginas, o que não desejo.

Então, voltando à ideia original, acrescento que é muito difícil resistir à tentação de estar entre eles. É como se toda a nossa existência fosse direcionada para isso — um carro melhor, uma casa melhor, uma roupa melhor. E, embora seja um desejo antigo, transmitido de geração em geração, é inegável que, hoje, ele é constantemente reforçado nas redes sociais.

Em nosso dia a dia, estamos mais suscetíveis a essas ofertas irrecusáveis de melhoria de vida, muitas vezes sem termos consciência da manipulação — também chamada de estratégia, dependendo do ponto de vista — por trás dos incontáveis anúncios que aparecem para nós em nossas redes.

Estamos sempre conectados, seja na cozinha, no banheiro, na sala, no trabalho ou mesmo no trajeto até o local de trabalho — sempre com um telefone na mão ou fones nos ouvidos. Não importa o que esteja fazendo; sempre aparecerá algum anúncio para convencê-lo a comprar ou investir em alguma coisa.

Esses comerciais são cruelmente planejados para lhe apresentar uma solução fácil para problemas que verdadeiramente o incomodam, prometendo uma mudança radical, uma melhoria quase onírica. Essas informações ficam martelando o nosso cérebro, hora após hora, dia após dia, influenciando o nosso comportamento e nos levando a tomar decisões impulsivas, motivando-nos a comprar coisas que não precisamos.

A cultura do consumo, infinitamente amplificada pelos comerciais nas redes sociais, vem afetando cada vez mais a nossa rotina, o nosso dia a dia e até mesmo as nossas relações. Reconhecer essa manipulação é o primeiro passo para que possamos refletir e ser mais críticos em relação às nossas escolhas de consumo.

Mesmo assim, há uma pergunta que não quer calar: como ser forte o bastante para resistir a essas propostas inovadoras e milagrosas? Eu também gostaria de saber.

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1 comentários

  1. Como você diz em sua crônica, esse assunto é infindável. Mas o que foi escrito, já traz "um caminhão" de reflexões sobre o tema. O texto me lembra uma animação "O que é felicidade numa sociedade de consumo?", cujo protagonista é um rato que enfrenta filas intermináveis, correrias e brigas para comprar mercadorias que, ao final, só trazem dor de cabeça. Isso ocorre também na vida real.
    A psicologia explica que a compulsão por compras está associada a fatores como ansiedade, depressão, baixa autoestima, insegurança, entre outros transtornos.
    Excelente texto que poderia ser usado nos meios acadêmicos.

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