Venha conhecer a primeira mulher francesa a viver da literatura

A escritora feminista da Idade Média

Se tem uma mulher que merece ser lembrada quando o assunto é pioneirismo feminino na literatura, essa mulher é Christine de Pizan. Nascida em 1364, na Itália, mas criada na França, ela fez história ao se tornar a primeira mulher das letras francesas a viver do próprio trabalho como escritora. Em uma época em que as mulheres mal tinham voz, Christine pegou a pena e foi à luta.

Filha de um astrólogo da corte francesa, ela teve o privilégio raro de receber uma educação sólida. Mas a vida não foi fácil: ficou viúva cedo, com filhos para criar e poucas opções de sustento. Foi então que decidiu transformar sua habilidade com as palavras em profissão. E não qualquer profissão — ela virou referência na literatura da época, escrevendo sobre temas que iam muito além do esperado para uma mulher no século XIV.

O grande diferencial de Christine? Ela não apenas escrevia, mas questionava. Em uma época em que a visão predominante sobre as mulheres era negativa, ela bateu de frente com os estereótipos e defendeu a capacidade feminina.

Sua obra mais famosa, "A Cidade das Damas" (1405), é praticamente um manifesto feminista medieval. No livro, ela constrói uma cidade simbólica habitada apenas por mulheres virtuosas e intelectualmente capazes, desafiando as narrativas que insistiam em retratar as mulheres como inferiores.

Nem todos os homens (e especialmente os mais sábios) compartilham a opinião de que é ruim para as mulheres serem educadas. Mas é bem verdade que muitos homens tolos alegaram isso porque os desagradavam que as mulheres soubessem mais do que eles. — Christine de Pizan

Christine também não teve medo de comprar briga com grandes nomes da literatura. Ela foi uma das primeiras a criticar abertamente o machismo presente em obras populares, como "O Romance da Rosa", questionando a responsabilidade dos autores sobre a forma como retratavam as mulheres.

Em outras palavras, ela já estava fazendo um debate sobre representatividade e impacto da literatura séculos antes do feminismo moderno.

Com mais de 40 obras no currículo, Christine não se limitou apenas ao debate feminista. Escreveu sobre política, moralidade e até dedicou um poema a Joana d’Arc, celebrando a guerreira francesa como símbolo de força e liderança feminina. E olha que isso tudo aconteceu em uma época em que mulheres eram quase sempre silenciadas.

Christine de Pizan morreu por volta de 1430, mas seu legado continua vivo. Seu trabalho influenciou pensadores feministas séculos depois e provou que as mulheres sempre tiveram muito a dizer — só precisavam de espaço para isso. Se hoje muitas escritoras vivem de sua arte, é porque lá atrás, no século XIV, Christine abriu caminho com sua coragem e talento.

De nós, três irmãs, filhas de Deus, chamadas Razão, Retidão e Justiça, a todas as princesas, imperatrizes, rainhas, duquesas e damas de alta linhagem que governam o mundo cristão e, em geral, a todas as mulheres: saudações amorosas. — Christine de Pisan

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