Resenha: Ainda Resta uma Esperança, de J. M. Simmel

Um mundo em profunda crise econômica: a Alemanha pós-guerra, derrotada e destruída.

Um universo de vidas sem horizontes: um desempregado só vê solução no alcoolismo e no suicídio; um milionário que perdeu tudo; uma mulher que se prostitui. Mas ao mesmo tempo esta é uma história repleta de sentimentos de solidariedade e valores morais; observações irônicas sobre a fraqueza das pessoas que não percebem que a solução para os males do mundo e para os seus próprios males está em cada uma delas.

Ainda Resta uma Esperança é uma surpresa (das boas)

Esse livro foi uma surpresa muito positiva. Eu comecei a leitura sem muita expectativa e logo me encantei - a descrição da Alemanha pós-guerra me trouxe uma visão que eu nunca teria sequer imaginado se não tivesse lido.

Você é capaz de sentir a agonia, a desesperança dos personagens e, principalmente, de Jakob Steiner, o homem que acompanhamos na leitura. O homem que, logo na primeira página, procurava uma corda para se enforcar. É com esse cenário caótico que a história começa e, acredite em mim, ela muda drasticamente no final.

No entanto, o desenvolver é suave, a mudança de personalidade de Jakob é tão lenta, gradual e real que você consegue sentir a esperança crescendo dentro de si também. É incrível.

É uma escrita um tanto pesada, principalmente por ser um livro mais antigo e com costumes narrativos dos anos oitenta, mas muito agradável. A história é convincente, realista e te envolve bastante. Em poucas páginas, você começa a realmente querer acompanhar a história de todos os personagens que Simmel te apresenta e descobrir como tudo isso vai terminar.

Alguém vai desistir? Eles irão encontrar comida? Um lugar para ficar? Irão conseguir reformar o lugar onde vivem? Muitas perguntas, diversas possibilidades, e quando as coisas parecem se ajeitar, tudo bagunça novamente.

"Brindaremos à coragem de viver."

Passagens cristãs e a profundidade das reflexões de J. M. Simmel

Em vários momentos da narrativa, o autor nos entrega passagens cristãs. Passagens estas que me renderam algumas horas de reflexão. Sobre a vida, sobre a minha vida, sobre a vida das pessoas ao meu redor. Sobre a forma de ver a vida. Sobre a forma de vivê-la.

Além de uma narrativa, é uma viagem de autoconhecimento e de resgate à sua esperança interior. É, definitivamente, um dos livros que mais me fez refletir sobre isso - desconsiderando livros focados em autoajuda, claro. Uma leitura formidável, que eu indicaria para qualquer pessoa - porque todos deveriam ter esse pingo de esperança restaurado dentro de si.

"Na vida, nesta coisa sublime e ridícula, horrível e gostosa que nós, homens, chamamos de vida, não é a vida em si que interessa, mas a maneira como a levamos. O que importa é reconhecer que devemos amar as pessoas se quisermos entendê-las. Só o amor tem sentido, todo o ódio é insensato."

J. M. Simmel foi um dos maiores autores alemães no Brasil

Essa informação também me pegou de surpresa. Me deixou um pouco espantada - e assustada, talvez? - ao perceber a forma como as coisas mudam rapidamente. O livro foi publicado em 1986 e já intitulava J. M. Simmel como "o escritor alemão mais lido no Brasil" e eu nunca ouvi falar dele, nem mesmo outros amigos que também lêem.

Me fez parar para pensar se, daqui 20 anos, ainda estaremos admirando os mesmos autores? Provavelmente não. Provavelmente a nova geração elegerá seus próprios autores favoritos e "mais lidos". Mas a vida é assim, certo? Isso é o que nos mantém em movimento constante.

"E o senhor vê: a mesma coisa se dá com o homem. Também nós precisamos um do outro; um não existe sem o outro."

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